segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os flamboyants
Rubem Alves

A manhã estava linda: céu azul, ventinho fresco. Infelizmente, muitas obrigações me aguardavam. Coisas que eu tinha de fazer. Aí, lembrei-me do menino-filósofo chamado Nietzsche que dizia que ficar em casa estudando, quando tudo é lindo lá fora, é uma evidência de estupidez. Mandei as obrigações às favas e fui caminhar na lagoa do Taquaral.

Bem, não fui mesmo caminhar. Meu desejo não era médico, caminhar para
combater o colesterol. Caminhar, para mim, é uma desculpa para ver, para cheirar, para ouvir... Caminho para levar meus sentidos a dar um passeio. Tanta coisa: os patos, os gansos, os eucaliptos, as libélulas, a brisa acarinhando a pele - os pensamentos esquecidos dos deveres. Sem pensar, porque, como disse Caeiro, "pensar é estar doente dos olhos". Aí, quando já me preparava para ir embora, já no carro, vejo um amigo.

Paramos. Papeamos. Ele, com uma máquina fotográfica. Andava por lá, fotografando. Não tenho autorização para dizer o nome dele. Vou chamá-lo de Romeu, aquele que amava a Julieta. Me confidenciou: "Vou fazer uma surpresa para a Julieta. Ela adora os flamboyants. E eles estão maravilhosos. Vou fazer um álbum de fotografias de flamboyants para ela... Você não quer vir até a nossa casa para tomar um cafezinho?"

Fui. Mas ele me advertiu: "Não diga nada para ela. É surpresa..." Esta história tem sua continuação um pouco abaixo. Recomeço em outro lugar.

As crianças da 3ª série do Parthenon, escola linda, me convidaram para uma visita. Elas tinham estado fazendo um trabalho sobre um livrinho que escrevi, O Gambá Que Não Sabia Sorrir. Queriam me mostrar. Foi uma gostosura. É uma felicidade sentir-se amado pelas crianças. Eu me senti feliz. Aí aconteceu uma coisa que não estava no programa.

Uma menininha, na hora das perguntas, disse que ela havia lido a minha crônica Se Eu Tiver Apenas Um Ano a Mais de Vida...

Espantei-me ao saber que uma menina de nove anos lia minhas crônicas. Lia e gostava. Lia e entendia. Aí ela acrescentou: "Recortei a crônica e trouxe para a professora..." Confirmou-se aquilo de que eu sempre suspeitara: as crianças são mais sábias que os adultos. Porque o fato é que muitos adultos ficaram espantados e não quiseram brincar de fazer de contas que eles tinham apenas um ano a mais para viver. Ficaram com medo. Acharam mórbido.

As crianças, inconscientemente, sabem que a vida é coisa muito frágil, feito uma bolha de sabão. Minha filha Raquel tinha apenas dois anos. Eram seis horas da manhã. Eu estava dormindo. Ela saiu da caminha dela e veio me acordar. Veio me acordar porque ela estava lutando com uma idéia que a fazia sofrer. Sacudiu-me, eu acordei, sorri para ela, e ela me disse: "Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?" Eu fiquei pasmo, sem saber o que dizer. Mas aí ela me salvou: "Não chore porque eu vou abraçar você..."

As crianças sabem que a vida é marcada por perdas. As pessoas morrem, partem. Partindo, devem sentir saudades - porque a vida é tão boa! Por isso, o que nos resta fazer é abraçar o que amamos enquanto a bolha não estoura.

Os adultos não sabem disso porque foram educados. Um dos objetivos da educação é fazer-nos esquecer da morte. Você conhece alguma escola em que se fale sobre a morte com os alunos? É preciso esquecer da morte para levar a sério os deveres. Esquecidos da morte, a bolha de sabão vira esfera de aço. Inconscientes da morte aceitamos como naturais as cargas de repressão, sofrimento e frustração que a realidade social nos impõe. Quem sabe que a vida é bolha de sabão passa a desconfiar dos deveres...E, como disse Walt Whitmann, "quem anda duzentos metros sem vontade, anda seguindo o próprio funeral, vestindo a própria mortalha".

O pessoal da poesia está levando a sério a brincadeira. Eu mesmo já fiz vários cortes drásticos em compromissos que assumi. Eram esferas de aço. Transformei-os em bolhas de sabão e os estourei. Pois o pessoal da poesia decidiu que, no programa de um ano de vida apenas, num dos nossos encontros não haveria leitura de poesia: haveria brinquedos e brincadeiras. Cada um trataria de desenterrar os brinquedos que os deveres haviam enterrado.

Obedeci. Abri o meu baú de brinquedos. Piões, corrupios, bilboquês, iô-iôs e uma infinidade de outros brinquedos que não têm nome. Seria indigno que eu levasse piões e não soubesse rodá-los. Peguei um pião e uma fieira e fui praticar. Estava rodando o pião no meu jardim quando um cliente chegou.
Olhou-me espantado. Ele não imaginava que psicanalistas rodassem piões. Psicanalista é pessoa séria, ser do dever. Pião é coisa de criança, ser do prazer.

Acho que meus colegas psicanalistas concordariam com meu paciente. A teoria diz que um cliente nada deve saber da vida do psicanalista. O psicanalista deve ser apenas um espaço vazio, tela onde o paciente projeta suas identificações. Mas a minha vocação é a heresia. Ando na direção contrária. "Você sabe rodar piões?", eu perguntei. Ele não sabia. Acho que ficou com inveja. A sessão de terapia foi sobre isso. E ele me disse que um dos seus maiores problemas era o medo do ridículo. Crianças são ridículas. Adultos não são ridículos. Aí conversamos sobre uma coisa sobre a qual eu nunca havia pensado: que, talvez, uma das funções da terapia seja fazer com que as pessoas não tenham medo das coisas que os "outros" definem como ridículo. Quem não tem medo do ridículo está livre do olhar dos outros.
Preparei o encontro de poesia de um jeito diferente. Nada de sopas sofisticadas. Fui procurar macarrão de letrinha, coisa de criança. Não encontrei. Encontrei estrelinhas. Fiz sopa de estrelinhas. E toda festa de criança tem de ter cachorro-quente. Fiz molho de cachorro-quente. E nada de vinho. Criança não gosta de vinho. Gosta é de guaraná.

Foi uma alegria, todo mundo brincando: iô-iôs, piões, corrupios, bilboquês, quebra-cabeças, pererecas (aquelas bolas coloridas na ponta de um elástico)... Rimos a mais não poder. Todo mundo ficou leve. Aí tive uma idéia que muito me divertiu: que na sala de visitas das casas houvesse um baú de brinquedos. Quando a conversa fica chata, a gente abre o baú de brinquedos e faz o convite: "Não gostaria de brincar com corrupio?" E a gente começa a brincar com o corrupio e a rir. A visita fica pasma. Não entende. "Quem sabe, ao invés do corrupio, um bilboquê?" E a gente brinca com o bilboquê. Aí a gente estende o brinquedo para a visita e diz: "Por favor, nada de acanhamentos! Experimente. Você vai gostar..." São duas as possibilidades. Primeira: a visita brinca e gosta e dá risadas. Segunda: ela acha que somos ridículos e trata de se despedir para nunca mais voltar...

Pois a Julieta - aquela do Romeu - me trouxe uma pipa de presente. Vou empinar a pipa em algum gramado da Unicamp. E aí ela nos contou da surpresa que lhe fizera o Romeu. Fotografias de flamboyants vermelhos - que coisa mais romântica! Árvores em chamas, incendiadas! Cada apaixonado é um flamboyant vermelho! E nos contou das coisas que o Romeu tivera que fazer para que ela não descobrisse o que ele estava preparando.

Mas o mais bonito foi o que ele lhe disse, na entrega do presente. Não sei se foi isso mesmo que ele disse. Sei que foi mais ou menos assim: "Sabe, Julieta, aquela história de ter um ano apenas a mais para viver... Pensei que você gostava de flamboyants e que você ficaria feliz com um álbum de flamboyants. E concluí que, se eu tiver um ano apenas amais para viver, o que quero é fazer as coisas que farão você feliz..."

Um ano apenas a mais para viver: aí os sentimentos se tornam puros. As palavras que devem ser ditas, devem ser ditas agora. Os atos que devem ser feitos, devem ser feitos agora. Quem acha que vai viver muito tempo fica deixando tudo para depois. A vida ainda não começou. Vai começar depois da construção da casa, depois da educação dos filhos, depois da segurança financeira, depois da aposentadoria...

As flores dos flamboyants, dentro de poucos dias, terão caído. Assim é a vida. É preciso viver enquanto a chama do amor está queimando...
Esse link é muito interessante. Acessem!http://acervoveja.digitalpages.com.br/home.aspx
Educação em crise *
*ARNALDO NISKIER*
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*O Brasil, em matéria de educação, é uma espécie de doente crônico, cheio de
contrastes. É um panorama altamente preocupante*
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O BRASIL , em matéria de educação, é uma espécie de doente crônico, cheio de
contrastes.
Temos 14 milhões de analfabetos e uma pós-graduação de Primeiro Mundo; o
ensino fundamental foi praticamente universalizado, mas a qualidade deixa
muito a desejar; todos se preocupam com a educação profissional, mas o
ensino médio ainda não encontrou seu caminho (é uma balbúrdia); o ensino
superior pode crescer muito, mas são poucas as instituições de elite; os
cursos de formação de professores são lamentáveis, como são lamentáveis os
salários pagos aos quadros do magistério.
Diversos estudiosos consideram que os cursos de pedagogia são inaptos para
formar bons profissionais.
Faculdades de pedagogia entregam ao mercado de trabalho docentes incapazes
de assumir uma sala de aula e dominar turmas de alunos. Por quê? Porque
muitos professores trazem limitações oriundas de uma educação básica falha.
Cometem erros crassos de ortografia, têm dificuldade na compreensão de
textos e total desconhecimento de conceitos científicos imprescindíveis.
Tais problemas os acompanham pelo curso de pedagogia e saem de lá sem se
livrar deles.
A mentalidade que reina no mundo acadêmico supervaloriza a teoria e
menospreza a prática. O trabalho concreto em sala de aula é colocado no
segundo plano, enfatizando a aplicação de conhecimentos filosóficos,
antropológicos, políticos, históricos e econômicos à educação. A
bibliografia adotada nos cursos ratifica o que ora afirmamos -são autores,
com honrosas exceções, que apresentam temas de ideologias superadas, em
prejuízo da parte referente ao trabalho do professor em sala de aula.
O estágio supervisionado é uma disciplina relegada e, às vezes, até
inexistente. Como aprender a dar aula sem fazê-lo, antes, efetivamente, e
com a devida orientação? Briga-se para pagar o piso de US$ 400 mensais aos
professores de ensino fundamental (por 40 horas semanais) quando o Japão
paga US$ 2.000. Com esse panorama, como duvidar de que a educação brasileira
esteja mesmo em crise? Veja-se o caso presente da discussão em torno do
sistema de cotas. De cinco anos para cá, é assunto dominante nas
universidades. A Câmara dos Deputados colocou mais lenha na fogueira.
Acreditamos que houve aprovação de um projeto altamente discutível. A
reserva de 50% de vagas nas universidades federais para alunos egressos das
escolas públicas apresenta preferências étnicas que são rigorosamente
inconstitucionais.
Vagas serão preenchidas por descendentes de negros, pardos e indígenas na
proporção da população de cada Estado. O cálculo terá por base o censo do
IBGE. Haverá ainda reserva de metade das vagas para estudantes de famílias
com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita.
Se a Carta Magna proíbe a discriminação por motivo de raça, não é defensável
o argumento de que se deve impor o movimento contrário. O inciso IV do
artigo 3º da Constituição -a Constituição Cidadã- explicita literalmente
este aspecto: "Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Cotas raciais
não têm amparo legal e, na verdade, camuflam a leniência oficial em relação
à qualidade do ensino público, este, sim, a merecer toda espécie inadiável
de apoio. E tem mais: é uma agressão à autonomia universitária. Frise-se
ainda que a Câmara entendeu que pode aliviar, por meio do novo mecanismo de
cotas raciais e sociais, a obrigatoriedade dos exames de habilitação para o
ensino superior.
Trata-se, na verdade, de uma imposição que, na prática, não funcionará.
O melhor exemplo é o que ocorreu na Uerj, a primeira universidade pública a
adotar o sistema de cotas. São revelações do reitor Ricardo Vieiralves. Dos
1.320 alunos iniciais, concluíram os cursos escolhidos só 350 alunos. Por
motivos diversos, em geral econômicos, houve grande evasão.
Vivemos um tempo difícil em nosso país, fruto também da desordem econômica
mundial. Temos hoje cerca de 20 mil cursos superiores e a maioria deles se
ressente da necessária excelência. Para complicar as coisas, os jovens
desconhecem a chamadas "profissões do futuro", aquelas ligadas à alta
tecnologia, genética e meio ambiente. Preferem os cursos tradicionais,
desconhecendo a saturação que ocorre, sobretudo nos grandes centros urbanos,
em profissões como medicina e direito.
Há uma sedução pelas profissões midiáticas, como publicidade e propaganda,
jornalismo, audiovisual e artes cênicas, que estão entre as dez mais
procuradas, com um pormenor essencial: são aquelas em que ocorre maior
índice de desistências, pois o mercado de trabalho é bastante restrito. A
geração nascida entre 1980 e 1995 é vítima desse equívoco. A era da
interatividade não tem ajudado na escolha profissional adequada. É um
panorama altamente preocupante.
*ARNALDO NISKIER*, 73, professor, jornalista e escritor, é membro da
Academia Brasileira de Letras e presidente do Ciee/Rio.

        
Estou enviando a vocês um artigo que talvez possa interessar.
Abraços,
Rogério
*Terapia é tão eficaz quanto droga na depressão infantil*
*Resultado é de estudo dos EUA; para médicos, tratamento combinado é a
melhor opção*
*Segundo a OMS, a taxa de crianças e adolescentes deprimidos cresce em todo
o mundo; violência e excesso de atividades são fatores*
*CLÁUDIA COLLUCCI*
DA REPORTAGEM LOCAL
A terapia comportamental é tão eficaz quanto o uso de remédio no tratamento
da depressão de crianças e adolescentes. A associação das duas técnicas,
contudo, traz resultados mais rápidos e com menos chances de recaídas.
A conclusão é de um estudo recente realizado a partir de um levantamento
financiado pelo Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos, com 439
crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos. O trabalho foi publicado no
"Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry".
A taxa de depressão infanto-juvenil vem crescendo em todo o mundo, segundo a
OMS (Organização Mundial da Saúde). Na faixa etária entre seis e 16 anos,
por exemplo, ela passou de 4,5% para 8% na última década. A violência
urbana, o excesso de atividades na agenda diária e a falta de espaço para o
lazer são apontados como os principais fatores.
O trabalho envolveu 13 instituições norte-americanas e testou, isoladamente,
três tipos de tratamento: terapia cognitivo-comportamental, antidepressivo
(fluoxetina) e a associação de ambos. Ao final de 36 semanas, a taxa de
eficácia dos três foi parecida: em torno de 60%.
Até a 18ª semana de tratamento, porém, a combinação de terapia
comportamental e de remédio foi melhor do que a chamada monoterapia. As
taxas de remissão (ausência de sintomas da depressão) foram de 56%
(tratamento combinado) contra 37% (remédio) e 27% (terapia).
*Tratamento combinado*
Para o médico John March, professor de psiquiatria do Centro Médico da
Universidade Duke e coordenador do estudo, se a depressão na criança for de
moderada a severa, a recomendação é que o tratamento seja combinado. Se for
leve, há indicação de terapia comportamental -e de acrescentar
antidepressivo se não houver resposta rápida.
"A terapia comportamental é muito boa, mas o tratamento combinado traz
resultados muito melhores, mais rápidos e mais duradouros do que somente a
terapia ou a fluoxetina. A associação de tratamentos também elimina o risco
de suicídio associado à medicação [fluoxetina]", explicou à Folha.
A psiquiatra Betsy Kennard, da Universidade do Texas, que também participou
do estudo, observa que, com a monoterapia, há uma demora de dois a três
meses para surtirem os resultados, em relação ao tratamento combinado.
"As crianças que recebem apenas remédio ou apenas terapia comportamental
chegarão ao mesmo ponto em 36 meses [em relação àquelas que usam terapia
combinada]. Mas, como pai ou mãe, você não vai querer ver seu filho sofrendo
por tanto tempo."
*Recaídas*
O psiquiatra infantil Fábio Barbirato, professor da Santa Casa do Rio de
Janeiro, acrescenta que a terapia associada à medicação traz menos chances
de recaída. "A depressão costuma ser flutuante: há uma melhora, uma piora.
As crianças que tomam o remédio e fazem terapia têm menos recaídas em
relação às outras."
Para Barbirato, a mensagem do estudo é que os médicos não devem desistir de
tratar crianças e adolescentes deprimidos. "Muitos acabam sendo expostos a
um tratamento ineficaz e que traz riscos à sua saúde por conta de
diagnósticos errados, baseados em mitos."
Vários estudos têm demonstrado que crianças com sintomas depressivos não
tratados possuem mais chances de cometer suicídio, de se tornarem dependente
de drogas ou de manter a doença na idade adulta. "Não tem essa conversa de
que as coisas vão melhorar com o tempo. Sem tratamento, quem sofre é a
criança."
O psiquiatra acredita que a polêmica que ainda existe em torno do uso de
antidepressivo em crianças "é coisa de profissional que não está bem
atualizado e que vai contra tudo o que existe de mais atual".
Barbirato diz que já atendeu um garoto de sete anos de idade que havia
tentado duas vezes o suicídio. "Ele já tinha passado por várias terapias
inúteis. Depois de dois anos com terapia comportamental e remédio, ele teve
alta. Está sem remédio, nunca mais recaiu."
Na avaliação do psiquiatra Eurípedes Miguel, professor titular do
departamento de psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), a grande
importância do estudo foi ter demonstrado que a manutenção do tratamento a
longo prazo é fundamental para os adolescentes conseguirem a remissão dos
sintomas da depressão.

Embora poucos de vocês militem na área da educação, valem à pena a
reflexão e a leitura do artigo, publicado hoje no jornal Folha de São
Paulo, sobretudo para reconhecerem o problema nas escolas de seus filhos e
também em seus próprios filhos. Não se trata de uma crítica ao sistema, mas
aos professores que insistem em dizer que sabem ensinar, mas que no fundo, Pouco sabem.


Um grande abraço,
Rogério Rodrigues


*ENTREVISTA DE 2ª

MARTIN CARNOY*

*"Professores brasileiros precisam aprender a ensinar"*

*Para economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no
Brasil; problema também afeta escola particular *


Letícia Moreira/Folha Imagem
*Martin Carnoy durante entrevista e, São Paulo sobre estudo em que compara
os sistemas de educação do Brasil, Chile e Cuba*


*MARIA CRISTINA FRIAS*
*ROBERTA BENCINI*
DA REPORTAGEM LOCAL


"POR QUE alunos cubanos vão tão melhor na escola do que brasileiros e
chilenos, apesar da baixa renda per capita em Cuba?" A pergunta norteou
estudo do economista Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, que
filmou e mensurou diferenças entre atividades escolares nos três países. No
Brasil, o professor encontrou despreparo para ensinar e atividades feitas
pelos alunos sem controle. "Quase não há supervisão do que ocorre em classe
no Brasil."
Para ele, o problema também atinge a rede particular. "Pais de escolas de
elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor
se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá." Carnoy
sugere filmar o desempenho dos professores. "Não basta saber a matéria. É
preciso saber como ensiná-la." Ele esteve no Brasil na semana passada para
lançar o livro "A Vantagem Acadêmica de Cuba", patrocinado pela Fundação
Lemann.


*FOLHA - O que mais chamou a sua atenção nas aulas no Brasil?
MARTIN CARNOY* - Professoras contratadas por indicação do secretário de
Educação do município, que dirigem a escola e vão lá de vez em quando; 60%
das crianças repetem o ano, e professoras pensam que isso é natural porque
acham que as crianças simplesmente não conseguem aprender. Fiquei
impressionado, o livro [didático usado na sala de aula] era difícil de ler.
Precisaria ter alguém muito bom para ensinar aquelas crianças com ele.
Ficaria surpreso se qualquer criança conseguisse passar [de ano]. Vi escolas
na Bahia, em Mato Grosso do Sul, em São Paulo, no Rio... [entre outros].


*FOLHA - Qual a metodologia do estudo?
CARNOY* - Como economista, usei dados macro para explicar as diferenças
entre os países nos testes de matemática e linguagem. Fizemos análises com
visitas a escolas e filmamos classes de matemática e analisamos as
diferenças entre as atividades em classe. Há uma grande diferença, pais
cubanos têm renda baixa, mas são altamente educados, em comparação com os do
Brasil. O estudo foi finalizado em 2003 e depois comparamos Costa Rica e
Panamá. Na Costa Rica, há coisas engenhosas, aulas com duas horas, em que se
pode realmente ensinar algo. Supervisionar a resolução de problemas de
matemática e, principalmente, discutir resultados e erros. Os alunos cubanos
têm aulas acadêmicas das 8h às 12h30. Depois, almoço. Voltam às 14h e ficam
até as 16h30, quando têm uma sessão de TV por 40 minutos. A seguir, artes e
esportes, mas com o mesmo professor.


*FOLHA - Ter o mesmo professor durante quatro anos (como os cubanos) é uma
vantagem?
CARNOY* - Quatro anos, pelo menos. Mas os alunos não mudam de um ano para
outro. No Brasil, se alunos e professores mudam muito de escola, como fazer
isso? Se a ideia é tão boa, se funciona, deveríamos fazer algo para que pelo
menos professores não mudassem tanto.


*FOLHA - Qual a sua avaliação sobre a proposta da Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo que vincula o aumento de salário à permanência do
professor na mesma escola e à aprovação em testes?
CARNOY* - Sugeri ao secretário Paulo Renato que acrescentasse um teste:
filmar o professor, como no Chile. Professores de outra escola avaliam os
videoteipes. Professores podem ser bons nos testes, mas péssimos para
ensinar. Se você tiver um professor experiente que foi bem ensinado a
ensinar e teve um bom desempenho com os alunos, a diferença é visível em
relação a uma pessoa sem experiência, como eu. Profissionais que viram as
fitas disseram que há grande diferença entre o professor cubano e o
brasileiro.


*FOLHA - A Secretaria da Educação pretende oferecer curso de treinamento de
professores de quatro meses. Em Cuba, dura 18 meses, para o nível médio. O
que é importante num treinamento?
CARNOY* - [Em Cuba] São oito meses para a escola fundamental. Mas são para
os professores que não foram à faculdade. Você deve se lembrar que houve
escassez de professores, com o incremento do turismo, que atrai pelo
pagamento em dólares. Tiveram de produzir muitos professores, muito
rapidamente. Então, pegaram os melhores estudantes do ensino médio e lhes
ofereceram cinco anos de universidade nos finais de semana. O que é
importante nesses cursos de treinamento é ensinar como dar o currículo, como
ensinar matemática. O Estado deve estabelecer padrões claros, como na
Califórnia. Isso é o que tem de ser ensinado em matemática no terceiro ano.
No Chile, há um currículo nacional, mas não ensinam aos estudantes de
pedagogia como ensinar o currículo.


*FOLHA - O sr. dá muita importância ao diretor...
CARNOY *- E também à supervisora, que em muitas escolas no Brasil não fazem
nada, não entram em sala. Em Cuba, diretores e vice-diretores ou
supervisoras assistem às aulas. Nos primeiros três anos de serviços de um
professor, eles entram muito, ao menos duas vezes por semana. São tutores
que asseguraram que a instrução siga o método e o nível requeridos pelos
padrões estabelecidos.


*FOLHA - Os bônus a professores, como ocorre no Estado de São Paulo, são um
bom caminho?
CARNOY* - Não há boas evidências de que esse sistema de estímulo funciona. O
modelo usado em São Paulo, em que todos os professores ganham mais dinheiro
se a escola atingir a meta, pode funcionar. Tentaram isso na Carolina do
Sul, no final dos anos 80. Foi um grande sucesso por poucos anos e, depois,
deixou de sê-lo porque não houve mais melhora. Eles só atingiram um certo
limite e não conseguiram mais progredir. Há o efeito inicial do esforço e
depois, quando as pessoas têm que saber melhor como aprimorar o desempenho
dos alunos, nada acontece. E não existe mais na Carolina do Sul. O que tem
sido feito, em geral, nos EUA não é bônus, mas punição. Se a escola fracassa
em atingir a sua meta em três anos, como na Flórida, os estudantes podem
receber vouchers e frequentar escolas particulares, em vez de públicas. A
forma como estão fazendo em São Paulo não é a melhor. Eles medem neste ano
como a segunda série aprende e, no próximo, quanto a segunda série aprende.
Mas não os mesmos alunos. Escolas pequenas têm mais chance de receber bônus
do que grandes. Se a escola cai, não há punição. Só não recebe bônus. Não
estou defendendo punição, só digo que eles [bônus] são mal mensurados. Você
pode fazer como em São Paulo, mas não dar bônus todo ano, e sim a cada dois anos. E aí poderá ver o que se ganhou com os alunos que se mantiveram na escola e ter as médias, mas com as mesmas crianças através das séries. O
problema da falta de professores é mais grave porque é sobretudo um
absenteísmo autorizado, não é ilegal. Em Cuba, professores e alunos faltam
pouco. É tudo controlado.


*FOLHA - Melhorar o ensino público provocaria uma avanço na educação como um
todo, inclusive nas escolas particulares?
CARNOY* - Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução
aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de
classe média do Canadá. Mesmo os melhores docentes brasileiros são menos
treinados do que os de Taiwan. Os melhores professores no Brasil têm em
média desempenho abaixo da média do professorado de países desenvolvidos.
Investir e melhorar a escola pública, que é a base de comparação dos pais,
elevaria o resultado das melhores escolas particulares também. Professores
são bons em pedagogia, mas não no conhecimento a ser ensinado. Não treinam
muito matemática e não sabem como ensiná-la.


*FOLHA - O que do modelo cubano não pode ser transposto considerando que
Cuba vive sob ditadura?
CARNOY* - Há, de fato, uma falta de criatividade [no ensino]. Não se pode
questionar, ser contra a Revolução. Mas as crianças sabem que estão
aprendendo o esperado. São bons em matemática, sabem ler bem e aprendem
muita ciência, mesmo nas escolas rurais ou de bairros urbanos de baixa
renda. O Brasil tem a capacidade de enfrentar esses problemas [ter crianças
bem nutridas, com bom atendimento médico]. Por que em uma sociedade com uma
renda per capita que não é tão baixa não se faz isso? Acho que tem de ser
construído um sistema de supervisão, com pessoas capazes de ensinar e
treinar novos professores a ensinar. Os professores no Brasil estudam muito
linhas de pedagogia e menos como ensinar. Podem esquecer tudo aquilo de
Paulo Freire, um amigo. Devem ler sua obra como exercício intelectual, mas
queremos que professores saibam ensinar.


*FOLHA - Não é possível conciliar na América Latina bom ensino com
autonomia, democracia?
CARNOY* - A melhor escola é a que tem professores com democracia. Mas temos
de ter um acordo de quais são os nossos objetivos. Tony Alvarado é um
supervisor em Manhatan que trocou metade dos professores e dos diretores
para melhorar a qualidade das escolas. Ele disse aos professores: "Este é o
programa. Vão implementá-lo comigo ou não? Têm uma semana para pensar. Se
não quiserem, são livres para sair".


*FOLHA - No Brasil seria mais difícil...
CARNOY* - Seria muito mais fácil! Um quarto do professorado muda de escola
todo ano! Em Nova York, não se demitiu. Alvarado mandou-os para outros
bairros. Precisa, no início, de um certo autoritarismo. Porque alguém tem de
dizer o que fazer no início. E depois, sim, há uma democracia. Os diretores
devem se preocupar com os direitos das crianças. Em Cuba, é o Estado. Aqui,
os sindicatos de professores preocupam-se com os direitos dos associados - e
estão em certos em fazê-lo. Mas e as pobres crianças que não têm sindicatos
para defender seus direitos à educação?


--
ROGÉRIO RODRIGUES DA SILVA
Doutorando em Responsabilidade Social Corporativa - ISEG/UTL/Portugal
www.psicologorogerio.com.br/cursos.htm


                           

ENSINAR HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL? PRA QUÊ?



História é vida, não vida biológica, pura e simples, mas num sentido social; pensar, agir, sentir. Vida, neste sentido, é história e viver consequentemente é construir história.

                

História e conhecimento, sobre parte de nossa vida, ou do que lembramos ou do que resistiu ao tempo, como uma foto, um vídeo, documentos de registros gráficos.



A palavra história pode ser entendida como o conhecimento sobre nossa própria vida, configurado em narrativa histórica, concebido dentro de regras da história ciência ou de história disciplina escolar.



O ensino de história se faz importante para a formação do cidadão, pois as crianças compreendem o passado a partir das referências do presente e fazem uma projeção para o futuro.



Assim, tão importante quanto estudar conceitos, como colônia, escravidão e comunicação é fundamental fazer com que a criança se desenvolva, por exemplo, a noção de tempo cronológico. Ele precisa vivenciar a duração e o ritmo de uma determinada ação, compreender a diferença entre 3 séculos (os tempos coloniais) e 3 meses (o tempo que o separa das próximas férias).



Objetivos e habilidades prioritárias para a história nos anos iniciais



Partindo da ideia de que o conhecimento histórico nos dá a conhecer o nosso passado, construímos nossas identidades presentes e decidimos como agir. Essas decisões, sejam sobre as representações que fazemos a nós mesmos e dos que nos cercam, sejam sobre os caminhos que queremos trilhar, individual e coletivamente, são mediadas por informações fornecidas pelo conhecimento histórico, principalmente no interior da escola.



ü Conhecer / Construir: conceitos de tempo, espaço, passado, história, fonte e interpretação, que viabilizem a compreensão dos atos, pensamentos e sentimentos dos homens através do tempo.



ü Reconhecer / comparar / relacionar: semelhanças e diferenças, permanência, transformações, relações sociais, culturais e econômicas e modo de vida.



ü Fazer uso: de instrumento de busca, de fontes de informação e de ferramentas de veiculação da informação em diferentes gêneros e suportes.



ü Criticar (atribuir valor): ações individuais e coletivas de grande significado social.







Recursos didáticos



O professor não é uma voz para transmissão de informações, mas ele tem aliados como atividades técnicas, linguagem e vários recursos onde se processam a transmissão do conhecimento. O ensino de história é contínuo e se faz necessárias atualizações de fontes, pesquisas, livros etc. Para isso temos revistas, manuais, dicionários e a própria TIC’s.



A satisfação do aluno, o interesse, a auto-experimentação, o prazer da descoberta, o respeito aos conhecimentos prévios e as singularidades sócio culturais dos alunos, por exemplo, são noções pedagógicas bastante conhecidas que estimulam e orientam o emprego de variados recursos didáticos.


Sites Departamento do Patrimônio Histórico - DPH


http://www.prodam.sp.gov.br/dph/

Um passeio virtual pelo Centro Histórico da cidade de São Paulo. Estão disponíveis fotos do início do século 20, que integram o Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, do projeto "Casa da Memória Paulistana".

http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/index-b.jhtm
 
http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular/noticias/10-sites-estudar-humanidades-490217.shtml