segunda-feira, 28 de maio de 2012


Embora poucos de vocês militem na área da educação, valem à pena a
reflexão e a leitura do artigo, publicado hoje no jornal Folha de São
Paulo, sobretudo para reconhecerem o problema nas escolas de seus filhos e
também em seus próprios filhos. Não se trata de uma crítica ao sistema, mas
aos professores que insistem em dizer que sabem ensinar, mas que no fundo, Pouco sabem.


Um grande abraço,
Rogério Rodrigues


*ENTREVISTA DE 2ª

MARTIN CARNOY*

*"Professores brasileiros precisam aprender a ensinar"*

*Para economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no
Brasil; problema também afeta escola particular *


Letícia Moreira/Folha Imagem
*Martin Carnoy durante entrevista e, São Paulo sobre estudo em que compara
os sistemas de educação do Brasil, Chile e Cuba*


*MARIA CRISTINA FRIAS*
*ROBERTA BENCINI*
DA REPORTAGEM LOCAL


"POR QUE alunos cubanos vão tão melhor na escola do que brasileiros e
chilenos, apesar da baixa renda per capita em Cuba?" A pergunta norteou
estudo do economista Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, que
filmou e mensurou diferenças entre atividades escolares nos três países. No
Brasil, o professor encontrou despreparo para ensinar e atividades feitas
pelos alunos sem controle. "Quase não há supervisão do que ocorre em classe
no Brasil."
Para ele, o problema também atinge a rede particular. "Pais de escolas de
elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor
se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá." Carnoy
sugere filmar o desempenho dos professores. "Não basta saber a matéria. É
preciso saber como ensiná-la." Ele esteve no Brasil na semana passada para
lançar o livro "A Vantagem Acadêmica de Cuba", patrocinado pela Fundação
Lemann.


*FOLHA - O que mais chamou a sua atenção nas aulas no Brasil?
MARTIN CARNOY* - Professoras contratadas por indicação do secretário de
Educação do município, que dirigem a escola e vão lá de vez em quando; 60%
das crianças repetem o ano, e professoras pensam que isso é natural porque
acham que as crianças simplesmente não conseguem aprender. Fiquei
impressionado, o livro [didático usado na sala de aula] era difícil de ler.
Precisaria ter alguém muito bom para ensinar aquelas crianças com ele.
Ficaria surpreso se qualquer criança conseguisse passar [de ano]. Vi escolas
na Bahia, em Mato Grosso do Sul, em São Paulo, no Rio... [entre outros].


*FOLHA - Qual a metodologia do estudo?
CARNOY* - Como economista, usei dados macro para explicar as diferenças
entre os países nos testes de matemática e linguagem. Fizemos análises com
visitas a escolas e filmamos classes de matemática e analisamos as
diferenças entre as atividades em classe. Há uma grande diferença, pais
cubanos têm renda baixa, mas são altamente educados, em comparação com os do
Brasil. O estudo foi finalizado em 2003 e depois comparamos Costa Rica e
Panamá. Na Costa Rica, há coisas engenhosas, aulas com duas horas, em que se
pode realmente ensinar algo. Supervisionar a resolução de problemas de
matemática e, principalmente, discutir resultados e erros. Os alunos cubanos
têm aulas acadêmicas das 8h às 12h30. Depois, almoço. Voltam às 14h e ficam
até as 16h30, quando têm uma sessão de TV por 40 minutos. A seguir, artes e
esportes, mas com o mesmo professor.


*FOLHA - Ter o mesmo professor durante quatro anos (como os cubanos) é uma
vantagem?
CARNOY* - Quatro anos, pelo menos. Mas os alunos não mudam de um ano para
outro. No Brasil, se alunos e professores mudam muito de escola, como fazer
isso? Se a ideia é tão boa, se funciona, deveríamos fazer algo para que pelo
menos professores não mudassem tanto.


*FOLHA - Qual a sua avaliação sobre a proposta da Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo que vincula o aumento de salário à permanência do
professor na mesma escola e à aprovação em testes?
CARNOY* - Sugeri ao secretário Paulo Renato que acrescentasse um teste:
filmar o professor, como no Chile. Professores de outra escola avaliam os
videoteipes. Professores podem ser bons nos testes, mas péssimos para
ensinar. Se você tiver um professor experiente que foi bem ensinado a
ensinar e teve um bom desempenho com os alunos, a diferença é visível em
relação a uma pessoa sem experiência, como eu. Profissionais que viram as
fitas disseram que há grande diferença entre o professor cubano e o
brasileiro.


*FOLHA - A Secretaria da Educação pretende oferecer curso de treinamento de
professores de quatro meses. Em Cuba, dura 18 meses, para o nível médio. O
que é importante num treinamento?
CARNOY* - [Em Cuba] São oito meses para a escola fundamental. Mas são para
os professores que não foram à faculdade. Você deve se lembrar que houve
escassez de professores, com o incremento do turismo, que atrai pelo
pagamento em dólares. Tiveram de produzir muitos professores, muito
rapidamente. Então, pegaram os melhores estudantes do ensino médio e lhes
ofereceram cinco anos de universidade nos finais de semana. O que é
importante nesses cursos de treinamento é ensinar como dar o currículo, como
ensinar matemática. O Estado deve estabelecer padrões claros, como na
Califórnia. Isso é o que tem de ser ensinado em matemática no terceiro ano.
No Chile, há um currículo nacional, mas não ensinam aos estudantes de
pedagogia como ensinar o currículo.


*FOLHA - O sr. dá muita importância ao diretor...
CARNOY *- E também à supervisora, que em muitas escolas no Brasil não fazem
nada, não entram em sala. Em Cuba, diretores e vice-diretores ou
supervisoras assistem às aulas. Nos primeiros três anos de serviços de um
professor, eles entram muito, ao menos duas vezes por semana. São tutores
que asseguraram que a instrução siga o método e o nível requeridos pelos
padrões estabelecidos.


*FOLHA - Os bônus a professores, como ocorre no Estado de São Paulo, são um
bom caminho?
CARNOY* - Não há boas evidências de que esse sistema de estímulo funciona. O
modelo usado em São Paulo, em que todos os professores ganham mais dinheiro
se a escola atingir a meta, pode funcionar. Tentaram isso na Carolina do
Sul, no final dos anos 80. Foi um grande sucesso por poucos anos e, depois,
deixou de sê-lo porque não houve mais melhora. Eles só atingiram um certo
limite e não conseguiram mais progredir. Há o efeito inicial do esforço e
depois, quando as pessoas têm que saber melhor como aprimorar o desempenho
dos alunos, nada acontece. E não existe mais na Carolina do Sul. O que tem
sido feito, em geral, nos EUA não é bônus, mas punição. Se a escola fracassa
em atingir a sua meta em três anos, como na Flórida, os estudantes podem
receber vouchers e frequentar escolas particulares, em vez de públicas. A
forma como estão fazendo em São Paulo não é a melhor. Eles medem neste ano
como a segunda série aprende e, no próximo, quanto a segunda série aprende.
Mas não os mesmos alunos. Escolas pequenas têm mais chance de receber bônus
do que grandes. Se a escola cai, não há punição. Só não recebe bônus. Não
estou defendendo punição, só digo que eles [bônus] são mal mensurados. Você
pode fazer como em São Paulo, mas não dar bônus todo ano, e sim a cada dois anos. E aí poderá ver o que se ganhou com os alunos que se mantiveram na escola e ter as médias, mas com as mesmas crianças através das séries. O
problema da falta de professores é mais grave porque é sobretudo um
absenteísmo autorizado, não é ilegal. Em Cuba, professores e alunos faltam
pouco. É tudo controlado.


*FOLHA - Melhorar o ensino público provocaria uma avanço na educação como um
todo, inclusive nas escolas particulares?
CARNOY* - Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução
aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de
classe média do Canadá. Mesmo os melhores docentes brasileiros são menos
treinados do que os de Taiwan. Os melhores professores no Brasil têm em
média desempenho abaixo da média do professorado de países desenvolvidos.
Investir e melhorar a escola pública, que é a base de comparação dos pais,
elevaria o resultado das melhores escolas particulares também. Professores
são bons em pedagogia, mas não no conhecimento a ser ensinado. Não treinam
muito matemática e não sabem como ensiná-la.


*FOLHA - O que do modelo cubano não pode ser transposto considerando que
Cuba vive sob ditadura?
CARNOY* - Há, de fato, uma falta de criatividade [no ensino]. Não se pode
questionar, ser contra a Revolução. Mas as crianças sabem que estão
aprendendo o esperado. São bons em matemática, sabem ler bem e aprendem
muita ciência, mesmo nas escolas rurais ou de bairros urbanos de baixa
renda. O Brasil tem a capacidade de enfrentar esses problemas [ter crianças
bem nutridas, com bom atendimento médico]. Por que em uma sociedade com uma
renda per capita que não é tão baixa não se faz isso? Acho que tem de ser
construído um sistema de supervisão, com pessoas capazes de ensinar e
treinar novos professores a ensinar. Os professores no Brasil estudam muito
linhas de pedagogia e menos como ensinar. Podem esquecer tudo aquilo de
Paulo Freire, um amigo. Devem ler sua obra como exercício intelectual, mas
queremos que professores saibam ensinar.


*FOLHA - Não é possível conciliar na América Latina bom ensino com
autonomia, democracia?
CARNOY* - A melhor escola é a que tem professores com democracia. Mas temos
de ter um acordo de quais são os nossos objetivos. Tony Alvarado é um
supervisor em Manhatan que trocou metade dos professores e dos diretores
para melhorar a qualidade das escolas. Ele disse aos professores: "Este é o
programa. Vão implementá-lo comigo ou não? Têm uma semana para pensar. Se
não quiserem, são livres para sair".


*FOLHA - No Brasil seria mais difícil...
CARNOY* - Seria muito mais fácil! Um quarto do professorado muda de escola
todo ano! Em Nova York, não se demitiu. Alvarado mandou-os para outros
bairros. Precisa, no início, de um certo autoritarismo. Porque alguém tem de
dizer o que fazer no início. E depois, sim, há uma democracia. Os diretores
devem se preocupar com os direitos das crianças. Em Cuba, é o Estado. Aqui,
os sindicatos de professores preocupam-se com os direitos dos associados - e
estão em certos em fazê-lo. Mas e as pobres crianças que não têm sindicatos
para defender seus direitos à educação?


--
ROGÉRIO RODRIGUES DA SILVA
Doutorando em Responsabilidade Social Corporativa - ISEG/UTL/Portugal
www.psicologorogerio.com.br/cursos.htm


                           

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